
Rostos pela metade
WTF?? Que raio?! 

No outro dia, à entrada do centro de estética onde costumo ir mimar-me, vivi uma cena tipo twilight zone. 



Habitualmente já chego com a máscara colocada, para entrar logo, sem perdas de tempo. 

Naquele dia distraí-me e estive uns segundos à porta, à procura da máscara na mala.
O meu queixo caiu
quando a Dorinha, que me aguardava pacientemente, atirou, boquiaberta:

“O seu rosto é tão diferente do que eu imaginava! O sorriso, os dentes, o nariz, tudo!”.
O meu cérebro bloqueou, confesso. Teve uma branca.
Arrancou uns segundos depois, quando “matei a charada”.




Não conhecíamos mesmo o rosto uma da outra! E também nunca vim aqui espreita-la. Sempre nos vimos de máscara porque quando descobri este oásis já todos usávamos máscara em espaços fechados.

Afastámo-nos um pouco para podermos descobrir os rostos por uns instantes.
Confirmava-se: os rostos reais eram mesmo diferentes dos imaginados!! 

E eu tive um momento de espanto semelhante ao dela: parecia que estava a vê-la pela 1ª vez!
O nosso cérebro é exímio em preencher informação de contexto em falta. Fá-lo permanentemente, de forma super ágil e com base na experiência passada.
Boa parte das vezes, acerta na mouche
: a informação que projeta coincide com a realidade.

Esta é a premissa de muitas ilusões visuais
que nos deixam completamente desmontados
: como a manipulação da informação de contexto leva a que o cérebro complete as lacunas detetadas de formas distintas e (pasme-se!) previsíveis!!


Mas isso, são “outros 500”… Adiante!
Neste caso, era mesmo um long shot do tamanho de um elefante
: impossível!

Além de momentos UAU com estes, uma das mais importantes constatações é de que somos todos “meio surdos”: se não conseguimos complementar o que ouvimos com a leitura dos lábios
dos outros, ter uma conversa torna-se uma verdadeira prova de nervos!! 


Por outro lado, uma coisa é certa: somos mesmo “bicheza” criada para a conexão! 

Arranjamos sempre forma de comunicar e criar laços, mesmo com limitações que dificultam a comunicação que não é brincadeira!
Até adaptámos a nossa capacidade de “ler” as emoções dos outros à informação que temos disponível: mais atenção à expressão corporal (não apenas à facial!) e maior atenção ao olhar e à informação que transmite.
Aquelas incoerências da boca que sorri e olhos sinistros desapareceram: vemos apenas os olhos sinistros e percebemos perfeitamente a mensagem!!



Agora é que o “Tico e Teco” percebem realmente o significado profundo daquela expressão que diz que os olhos
são a janela para a alma.

E um olhar vale todas as palavras do mundo.